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Sou eu aqui em mim, sou eu

Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou

Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma

Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

 Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Neste Ano-Novo que começa, com uma página inteira em branco para escrever a história de quem queremos ser em 2023, vale um lembrete: eu, você e cada um de nós, somos o resultado da nossa História de Vida. O que eu quero ser lá na frente é resultado do que eu fui e do que estou sendo agora. Por mais que, neste instante, eu esteja aqui fazendo minhas projeções do futuro, posso e devo considerar que todas as memórias presentes em meu pensamento compõem quem sou eu, independentemente do tempo em que foram criadas. E nem sempre é confortável olhar para essas memórias, acolhê-las, aprender com elas e seguir adiante para ser tudo o que posso.

As distrações que a mente cria para desviar o foco desse viver na inteireza são muitas. Em tempos de tecnologias avançadas e de uma vida conectada com as telas digitais, a chance de nós nos desplugarmos de nós mesmos é ainda maior. A fragmentação está ali, a um clique. É fácil, mesmo entre tantos stories, esquecer a nossa própria história, nossos valores, nossa ancestralidade e tudo aquilo que nos compõe. Sem perceber, essa desconexão pode gerar comportamentos disfuncionais, fragmentados, que podem obscurecer o sentido da nossa própria existência.

Então, talvez, o convite para um 2023 mais pleno e feliz seja dedicar um tempo para refletir sobre si e se escutar, colocando entre as resoluções de Ano-Novo a prática afetiva de autocuidado. Já adianto que não é uma tarefa muito fácil, porém existem métodos que facilitam essa reflexão íntima e amorosa, ajudando a compreender o sentido e o significado de algumas passagens da vida. O relato autobiográfico (narrativa da própria vida) é um deles.

Para fazer o relato autobiográfico, podemos utilizar a metodologia dos Setênios, que tem como base a dinâmica das fases de desenvolvimento do ser humano retomadas por Rudolf Steiner (1861-1925), fundador e principal pensador da Antroposofia. É um saber antigo, na Grécia Clássica já se conheciam as leis gerais do desenvolvimento humano – transformações típicas que ocorrem ao longo dos anos –, que favorecem um caminho consciente de autoconhecimento.

No relato biográfico, a vida pode ser dividida em setênios, ciclos de sete anos que marcam importantes passagens de vida, cada um com suas características próprias:

0 –7: Nascer Físico – Aprender (Família)

7–14: Nascer Emocional – Aprender (Nós)

14–21: Nascer da Identidade  – Aprender (Amigos)

21–28: Buscar seu lugar – Viver o mundo, experimentar

28–35: Conquistar lugar – questionar o mundo

35–42: Consolidar lugar – identidade, valores, limites

42–49: Visão do todo – novos caminhos – fazer o essencial

49–56: Visão do conjunto – novos valores – fazer o necessário

56–63: Busca nova missão – útil à humanidade – fazer o bem

Acima de 63 – Ser Sábio

Com o relato biográfico, é possível fazer um resgate das nossas memórias de forma estruturada. É importante que nos sintamos livres para construir a nossa própria narrativa. Podemos,  também, para facilitar o processo, fazer perguntas específicas de cada fase, selecionar fotos de cada período, fazer desenhos conectados às recordações de cada setênio. Em síntese, usar todos os recursos disponíveis para aprofundar esse contato com a nossa história….  Enquanto narramos nossas memórias, entramos em contato com toda a energia e os sentimentos daquela época, registrando-os  no relato.

É uma oportunidade muito rica de rever e perceber o significado dos fatos vivenciados, refletindo sobre o lado luminoso e sombrio de cada fase, trazendo-os à consciência  para poder integrá-los à nossa vida e nela reconhecer o valor desses acontecimentos.

Cada vez que me pergunto quem eu sou, descubro coisas novas… Com isso, amplio o repertório sobre quem sou e passo a me acolher e respeitar mais. Não é à toa que os saberes ancestrais tanto insistiam no “Conhece-te a ti mesmo”: quando nos conhecemos podemos agir no mundo de forma mais íntegra, mesmo, em situações adversas.

Ao integrar conscientemente a nossa história de vida, reconhecemos a nossa singularidade e aprendemos a respeitar as diferenças. A diferença é o novo. E o novo é fio condutor para respondermos: O que quero para mim? O quero para o outro? E o que quero para o mundo?

Esta é a proposição que fazemos para você em 2023: vamos juntos rever, refazer e recriar  as bases que sustentam o nosso sistema de valores. Assim, poderemos ancorar nossos passos no amor, no autocuidado e na nossa potência interior para entregarmos ao mundo a melhor versão de quem somos.

Lenita Fujiwara e Nelma da Silva Sá
Equipe Unipaz São Paulo

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